quarta-feira, 24 de junho de 2009

"(...) O sol se põe em algum prado remoto, onde nenhuma casa é visível, com toda a glória e todo o esplendor para brindar as cidades; e talvez como nunca tenha se posto antes, onde apenas um gavião-do-pântano solitário tem suas asas douradas por ele, ou apenas um rato almiscarado espia de sua cabana, e existe um pequeno riacho de veios negros no meio do banhado, apenas começando a serpentear, contornando lentamente um toco de árvore em decomposição. Caminhamos numa luz tão pura e tão brilhante, dourando a grama e as folhas murchas, tão suave e serenamente brilhantes, que pensei que nunca havia me banhado numa torrente tão dourada, sem um marulho ou murmúrio. O lado oeste de cada bosque e terreno luzia como a fronteira do Elísio; e o sol em nossas costas parecia como um gentil pastor nos levando para casa ao cair da tarde.
E assim caminharemos em direção à Terra Santa, até que um dia o sol reluzirá com mais brilho do que nunca, reluzirá em nossas mentes e corações e acenderá todas as nossas vidas com um grande clarão do despertar,tão cálido, sereno e dourado como sobre a margem de um rio no outono."

THOREAU - CAMINHANDO.
"Segunda-feira, 23 de agosto de 1948:(...) Quanto a mim, a base de minha vida vai ser uma fazenda em algum lugar onde vou produzir parte de minha própria comida, e, se necessário, toda ela. Um dia não vou fazer coisa alguma além de sentar embaixo de uma árvore para ver minha lavoura crescer (depois do trabalho devido, claro) - e beber vinho caseiro, e escrever romances para edificar meu espírito, e brincar com meus filhos, e relaxar, e gozar a vida, e brincar, e assoar o nariz. Eu digo que eles não merecem nada além de desprezo por isso, e a próxima coisa, claro, eles estarão marchando para alguma guerra aniquiladora que seus líderes corruptos começarão para manter as aparências (decência e honra) e "fechar as contas".(...)
Caguei para os russos, caguei para os americanos, caguei para todo mundo. Vou viver a vida do meu jeito "preguiçoso coisa ruim", é isso que vou fazer."

JACK KEROUAC, DIÁRIOS.
"Ventos poderosos que partem os galhos de novembro! - e o sol brilhante e calmo, intocado pelas fúrias da terra, que abandona a terra à escuridão e ao desamparo selvagem, e à noite, enquanto homens tremem em seus casacos e correm para casa. E então as luzes dos lares se acendem naquelas profundezas desoladas. Mas há as estrelas! que brilham no alto de um firmamento espiritual. Vamos caminhar ao vento, absortos e satisfeitos em pensamentos maldosos, em busca de uma repentina e sorridente inteligência da humanidade abaixo dessas belezas abismais. Agora a fúria turbulenta da meia-noite, o ranger de nossas portas e janelas, agora o inverno, agora a compreensão da terra e de nossa presença nela: esse teatro de enigmas e duplos sentidos e pesares e alegrias solenes, essas coisas humanas na vastidão elemental do mundo açoitado pelo vento."

JACK KEROUAC, 12 DE NOVEMBRO DE 1947
"(...) E sei que sou imortal,
sei que minha órbita não pode ser medida pelo compasso do carpinteiro,
sei que não apagarei como espirais de luz que crianças fazem à noite com graveto aceso.

Sei que sou sublime,
não torturo meu espírito para que se justifique ou seja compreendido,
vejo que as leis elementares nunca se desculpam,
percebo que não ajo com orgulho mais elevado que o nível onde planto minha casa,afinal.

Existo como sou, isso me basta,
se ninguém mais no mundo está ciente, fico contente,
e se cada um e todos estão cientes, fico contente.

Um mundo está ciente, e é de longe pra mim o mais imenso, eu mesmo,
e se chego a ser o que sou hoje ou em dez mil ou dez milhões de anos,
posso aceitá-lo agora mesmo com alegria, ou com a mesma alegria posso esperar.

Meu pedestal é encaixado e talhado em granito,
dou risada do que você chama decomposição,
sei da amplidão do tempo.

Sou o poeta do corpo,
e sou o poeta da alma.

Os prazeres do céu estão comigo, os pesares do inferno estão comigo,
aqueles, enxerto e faço crescer em mim mesmo... estes, traduzo numa nova língua.

WALT WHITMAN - CANÇÃO DE MIM MESMO (FRAGMENTO)
"Quando somos muitos fortes, - quem recua? muito alegres, - quem cai em ridículo? Quando somos muito maus, - que se faria de nós?
Enfeitai-vos, ride, dançai. - Jamais poderei jogar o Amor pela janela.

RIMBAUD - FRASES (FRAGMENTO)
Farto de ver. A visão reencontrada em toda a parte.
Farto de ter. O ruído das cidades, à noite, e ao sol, e sempre.
Farto de saber. As paradas da vida. - Ó Ruídos e Visões!
Partir para afetos e rumores novos!

RIMBAUD - PARTIDA.

Infância

"(...)Sou o santo que ora no terraço, - como animais pacíficos pastando até o mar da Palestina.

Sou o sábio da poltrona sombria. Os ramos e a chuva se atiram às vidraças da biblioteca.

Sou o caminhante das grandes estradas pelos bosques anões; o rugir das represas ensurdece meus passos. Observo longamente a melancólica barrela de ouro do crepúsculo.

Posso bem ser o menino abandonado no molhe que se lança para o alto mar,o pequeno serviçal seguindo a alameda cujo fuste vai tocar o céu.

As trilhas são árduas. Os montículos se cobrem de giestas. O ar está imóvel. Que longe estão os pássaros e as fontes! Só pode ser o fim do mundo, se avançarmos."

ARTHUR RIMBAUD (INFÂNCIA - FRAGMENTOS)

quarta-feira, 10 de junho de 2009

POR VIR...

RIMBAUD... EFRAIM... EMILY DICKINSON... BUKOWSKI... ORIDES FONTELA... ANA C. ... KEROUAC... ARSENI TARKOVSKI... INA... VANESSA... ZÉ... NIKO... LIZA... NESSA... ABIGAIL... ANNA AKHMÁTOVA... RILKE... ARTAUD... ALVAREZ... E UM POUCO MAIS DE LOUCURA E REGOZIJO!
Uma noite incendiei a casa que amava,
um anel perfeito que o fogo faz
além das pedras e ervas daninhas
que eu via - nada mais.

Algumas criaturas do ar
com a noite assustadas,
de novo vieram o mundo olhar
e na luz acabaram queimadas.

Agora navego de céu a céu
e toda a escuridão passada
canta contra o bote que fiz
de asas mutiladas.

Leonard Cohen

Uma noite incendiei...

COMO A NÉVOA NÃO DEIXA CICATRIZ

Como a névoa não deixa cicatriz
nas colinas onde o verde mora,
assim meu corpo não deixará cicatriz
no seu, nem nunca nem agora.

Quando vento e falcão se encontram,
o que conter depois que comece?
Assim como a gente se encontra,
e depois que se solta, adormece.

Como tantas noites a acontecer
sem lua, com as estrelas por um triz,
assim a gente irá acontecer
quando um de nós não mais se diz.

Leonard Cohen

POEMA...

Ouvi falar de um homem
que dizia palavras com tal beleza
que bastava ele pronunciar seus nomes
e as mulheres se entregavam a ele.

Se estou mudo diante de seu corpo
enquanto o silêncio floresce como tumores em nossos lábios
é porque ouço um homem subir as escadas
e limpar a garganta atrás de nossa porta.

Leonard Cohen

Para Zé e Niko... os pistoleiros mais rápidos do oeste!
"Ó algo não provado! Algo em êxtase!
Escapar inteiramente das garras e da âncora do outro!
Avançar livremente! Amar firmemente! Arrojar-se despreocupadamente com perigo!
Cortejar a destruição com insultos, com convites!
Subir, saltar para os céus do amor indicado para mim!
Elevar-se mais longe com minha alma inebriada!
Perder-se, se necessário for!
Alimentar o que resta da vida com uma hora de plenitude e liberdade!
Com uma hora breve de loucura e de alegria."

Walt Whitman

WHITMAN

"(...) olho pra trás e vejo meus dias onde suei pra atravessar o nevoeiro com lingüistas e debatedores,
não ironizo nem argumento... só testemunho e espero."

Em meu ofício ou arte taciturna

Em meu ofício ou arte taciturna
exercido na noite silenciosa
quando somente a lua se enfurece
e os amantes jazem no leito
com todas as suas mágoas nos braços,
trabalho junto à luz que canta
não por glória ou pão
nem por pompa ou tráfico de encantos
nos palcos de marfim
Mas pelo mínimo salário
de seu mais secreto coração.

Escrevo estas páginas de espuma
não para o homem orgulhoso
que se afasta da lua enfurecida
nem para os mortos de alta estirpe
com seus salmos e rouxinóis,
mas para os amantes,seus braços
que enlaçam as dores dos séculos,
que não me pagam nem me elogiam
e ignoram meu ofício ou minha arte.

DYLAN THOMAS